O pensamento é a coisa mais livre que há. Não se pode adivinhar, não se pode policiar, não se pode controlar.
Escrevo estas ideias e quase imediatamente discordo delas. Apago-as. Na realidade o nosso pensamento é moldado, vigiado, limitado… Desde que nos lembramos de ter pensado seja o que for (e mesmo antes de nos lembrarmos), já o nosso pensamento não era realmente nosso.
E no entanto, há qualquer coisa de verdade na liberdade do pensamento...
Tento resolver o problema de concordar com uma ideia e com a sua crítica ao mesmo tempo. Detesto quando isto me acontece e acontece-me constantemente. Tento outra vez.
O pensamento é a coisa mais privada que há. Não se pode adivinhar, não se pode vigiar, não se pode violar. Posso pensar o que eu quiser sem a menor consequência, não ofendo ninguém, não acuso ninguém, não me revelo, não me podem reprimir - o meu pensamento é só meu.
Fico satisfeita com este resultado. Talvez não seja completamente verdade mas capta a verdade que eu quero. Continuo.
A minha vida é registada em fotos, vídeos, diários, redes sociais, conversas, momentos partilhados… mas há coisas que foram só simplesmente pensadas e dos meus pensamentos só eu sei. Quando eu morrer, todos os meus pensamentos nunca registados desaparecerão para sempre, não haverá como os recuperar.
E de repente percebo onde esta ideia quer ir. Sinto um arrepio na pele e obedientemente completo a crónica como ela me pede para ser completada.
O meu pensamento é só meu, e aos fascistas que me poderão um dia torturar - tal como torturaram tantas antes de mim - eu digo que posso gemer, estremecer, gritar, implorar e até, tristemente, quebrar, mas no meu pensamento não vão mandar - no amor e admiração que sinto pelos meus camaradas de luta, no desprezo e pena pela pequenez de quem me atormenta, e na certeza que serão derrotados e que um novo mundo irá chegar.
Respiro fundo. Obedeci, fica registado.
E entretanto continuo a lutar para que o fascismo não seja nunca mais. Pode ser que funcione.
Sábado - 18 Setembro 2021 / 10 Junho 2025 - Cardiff, País de Gales

Reflexão importante. E iluminada pela forma como é feita, com posições subjetivas alternadas, e que se interpelam. A forma pode dizer tanto, ou mais, que o conteúdo, ou pelo menos o conteúdo isoladamente. É este o caso aqui. Para continuar!